5 de agosto de 2010

Mil anos atrás desabou na Terra o planeta de Rinceau


por Alexandre Soares Silva


I. Prólogo (com galinhas)


Mil anos atrás desabou na Terra o planeta de Rinceau, feito de vitrais, se espatifando durante a noite na cidade de Lyon. As pessoas acordaram com o barulho de um planeta inteiro de vidro caindo nos seus telhados e, saindo para a rua, descobriram que pisavam em milhares de cacos de vidro, que só quando o sol nasceu foi possível ver que eram de cores variadas: algumas ruas estando cobertas de cacos vermelhos, outras de amarelos, verdes, azuis, e grisaille. Vacas e cabras, e alguns bêbados, e coitado um mendigo com bócio, que dormiram aquela noite ao relento, amanheceram mortos com pedaços de vidro enfiados nos pescoços, nas costas, no mencionado bócio, nos couros cabeludos, nas nucas, debaixo das pálpebras. O maior pedaço encontrado tinha o tamanho de uma bola de basquete e representava o focinho de um cavalo, marrom contra folhagem verde clara. Estava fincado no peito de um ferreiro que havia, infelizmente, dormido debaixo do telhado inacabado da sua casa na Croix Rousse. E se estamos relembrando compungidos as vítimas históricas dessa tragédia, me deixe mencionar as doze galinhas que morreram de susto com o barulho todo, seus coraçõezinhos explodindo quietamente dois ou três segundos depois da grande explosão de vidro: Paulina, Frangina, Paola, Piolina, Piccolina, Fantine, Martine, Berthe La Poule, Brigida I e Brigida II, a pequena Tommasina e a inesquecível Lola Pamplemousse, com seu famoso requebradinho e seu cocoricó sensual de cigana.

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