26 de maio de 2009

Drummond



Vomitar este tédio sobre a cidade
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.


Fonte: C. Drummond de Andrade, in A flor e a náusea.

2 comentários:

  1. Anônimo27/8/09

    Achei que pudesses gostar disso:

    ESTE É O PRÓLOGO
    (Garcia Lorca)
    Deixaria neste livro
    toda a minha alma.
    este livro que viu
    as paisagens comigo
    e viveu horas santas.
    Que pena dos livros
    que nos enchem as mãos
    de rosas e de estrelas
    e lentamente passam !
    Que tristeza tão funda
    é olhar os retábulos
    de dores e de penas
    que um coração levanta !
    Ver passar os espectros
    de vida que se apagam,
    ver o homem desnudo
    em Pégaso sem asas,
    ver a vida e a morte,
    a síntese do mundo,
    que em espaços profundos
    se olham e se abraçam.
    Um livro de poesias
    é o outono morto:
    os versos são as folhas
    negras em terras brancas,
    e a voz que os lê
    é o sopro do vento
    que lhes incute nos peitos
    - entranháveis distâncias.
    O poeta é uma árvore
    com frutos de tristeza
    e com folhas murchas
    de chorar o que ama.
    O poeta é o médium
    da Natureza
    que explica sua grandeza
    por meio de palavras.
    O poeta compreende
    todo o incompreensível
    e as coisas que se odeiam,
    ele, amigas as chamas.
    Sabe que as veredas
    são todas impossíveis,
    e por isso de noite
    vai por elas com calma.
    Nos livros de versos,
    entre rosas de sangue,
    vão passando as tristes
    e eternas caravanas
    que fizeram ao poeta
    quando chora nas tardes,
    rodeado e cingido
    por seus próprios fantasmas.
    Poesia é amargura,
    mel celeste que emana
    de um favo invisível
    que as almas fabricam.
    Poesia é o impossível
    feito possível. Harpa
    que tem em vez de cordas
    corações e chamas.
    Poesia é a vida
    que cruzamos com ânsia,
    esperando o que leva
    sem rumo a nossa barca.
    Livros doces de versos
    sãos os astros que passam
    pelo silêncio mudo
    para o reino do Nada,
    escrevendo no céu
    suas estrofes de prata.
    Oh ! que penas tão fundas
    e nunca remediadas,
    as vozes dolorosas
    que os poetas cantam !
    Deixaria neste livro
    toda a minha alma...
    (tradução: William Agel de Melo

    ResponderExcluir
  2. E gostei. Muito.
    [me veio agora Poeta em Nova York, do GL]

    ResponderExcluir