7 de dezembro de 2007

Excertos de Bernardo Carvalho



"As celebridades e os reality shows fazem parte do mesmo universo dos blogs pessoais e de uma literatura que, originária e devedora dos blogs, foi reduzida a crônica, expressão da opinião e da experiência pessoal. A exemplo da encenação pública da intimidade, o eu dos blogs é uma projeção que se realiza numa segunda realidade, numa rede de inter-relacionamentos constituída por confrarias cujos parâmetros são os seus próprios limites, o elogio do igual, a reiteração do mesmo e a execração do diferente."


"Não se produz pensamento; tomam-se partidos. As idéias foram reduzidas a representações sociais. Basta que cada um fale e seja reconhecido como representante do seu grupo social (e que muitas vezes se aproveite disso para respaldar a banalidade ou a demagogia do que diz). O que conta não é o teor das idéias (em geral, as mais simplistas), mas que sirvam para identificar o lugar social de quem as manifesta no campo de batalha. Essa aparente desordem apenas encobre uma ordem geral, o consenso em torno da realidade como um campo de forças autônomo, um teatro de ação e reação, imune à reflexão e à inteligência. Na recém-publicada edição espanhola dos artigos e palestras do dramaturgo francês Enzo Cormann, "Para que Serve o Teatro?", o autor diz que o teatro, por ser reflexão, "consiste em reinjetar subjetividade num corpo social entrevado pelo uniforme demasiado estreito do pragmatismo econômico" – ou (por que não?) do realismo oportunista que reivindica para si uma pretensa objetividade, condenando toda produção subjetiva à impotência e ao ridículo, como se dela não fizesse parte."

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