29 de maio de 2008

Hilda Hilst



Irreconhecível

Me procuro lenta
Nos teus escuros.
Como te chamas, breu?
Tempo.



Fonte: Hilda Hilst in Da Morte, Odes Mínimas.

28 de maio de 2008

Clarice Lispector


Clarice é hermética, aleatória, de subjetividade contumaz. Há qualquer coisa nela que me incomoda e inquieta. Nunca gostei. Mas há entrechos aqui que merecem registro. Seja pelo lirismo, seja pelo curioso tom de farsa:

*

Havia meninos que eu escolhera e que não me haviam escolhido, eu perdia horas de sofrimento porque eles eram inatingíveis, e mais outras horas de sofrimento aceitando-os com ternura, pois o homem era o meu rei da Criação.

*

Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que eu tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.

*

E eu não soube como existir na frente de um homem.

*

Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais.


Fonte: 
Clarice Lispector in A Legião Estrangeira.